Blogue dedicado às miniaturas de táxi

sábado, 1 de março de 2008

Renault AG1 - Táxi do Marne - Paris - 1914 - Miniatura automóvel n.º 101

Altaya
Táxis do Mundo - Taxis du Monde - Taxis of the World
Escala: 1/43
Modelo: Renault AG1 - Táxi do Marne - Paris - 1914
Made in China

Renault AG1 - Táxi do Marne - Paris - 1914

Táxis de época

O automóvel acabava de cumprir dez anos e passaria outra década antes que o uso do taxímetro se alargasse do seu país de origem, a Alemanha, ao resto da Europa e aos Estados Unidos.
A «Belle Époque» foi uma era de um certo esplendor, a todos os níveis, desde o económico até ao artístico passando pelo social, e teve lugar na Europa entre os últimos quinze anos do século XIX e os primeiros do século XX.
Nesse breve período de tempo, a humanidade viveu um surto de desenvolvimento impressionante: nasceram, por esta ordem, o automóvel (1886), o cinema (1895) e o transporte aéreo (1903). Em 1896 celebraram-se, em Atenas, as primeiras Olimpíadas da era moderna.
Em 1903 disputou-se o primeiro Tour de France, a rainha das competições ciclísticas. No que respeita ao automóvel, a partir de 1895, disputaram-se em França as primeiras corridas organizadas.
Em 1906 celebrou-se o primeiro Grand Prix, competição que daria origem à Fórmula 1 e, em 1911, teve lugar o primeiro Rally Montecarlo.
Naquela época de relativa tranquilidade - na qual a moda eram as exposições universais, as corridas de automóveis, as projecções cinematográficas e os jogos de futebol -, os coches de aluguer puxados por cavalos acabaram por desaparecer para darem lugar aos táxis. Quando se generalizou o nome de táxi, em 1907, ano em que se institucionalizou o emprego do taxímetro em todos os automóveis ao serviço do público nas grandes metrópoles de Londres, Paris e Nova Iorque, o coche de cavalos ainda competia com o automóvel. Uns anos depois, a tracção animal perdeu a corrida frente ao motor. À saída das grandes estações de comboio, às portas dos teatros e dos estádios formavam-se longas filas de táxis onde antes havia coches de cavalos. Agora os jovens de estirpe iam buscar as suas namoradas de carro e não de coche: até Marcel Proust, o grande escritor francês, incluiu uma cena na sua obra À Procura do Tempo Perdido, na qual o protagonista vai buscar a sua adorada Gilberta num automóvel de alugue (anterior aos táxis, claro).
E até os regicídios passaram do coche de cavalos para o automóvel: em 1908, D. Carlos de Portugal e seu filho mais velho foram assassinados quando cruzavam numa carruagem a Praça do Comércio, em Lisboa; em 1914, o arquiduque Francisco Fernando de Áustria e a esposa foram crivados de balas quando percorriam, num automóvel, as ruas de Sarajevo. Este acontecimento precipitou a Primeira Guerra Mundial, que acabou com esse período de bem-estar e florescimento.

Renault AG1 - Táxi do Marne - Paris - 1914

Renault AG1

A grande revolução do táxi teve lugar em 1907 com a introdução do taxímetro. O serviço de transportes privados de passageiros já existia, nas grandes cidades, mas só a partir de então assumiu um carácter de regularidade.
Foi nessa altura que alguns fabricantes de automóveis lançaram no mercado modelos específicos destinados exclusivamente ao serviço de táxis. Foi o caso da Renault, que já em 1905 apresentara os seus primeiros modelos do Landaulet AG, escolhido, um ano mais tarde, depois de provar a sua resistência nas ruas de Paris, para prestar esse serviço público na cidade.
Também conhecido como Renault 8 CV, foi o primeiro modelo em que se instalaram os recém-inventados taxímetros.
Não tardou muito para que as ruas de Paris se vissem inundadas por centenas desses táxis, cujos motores, de dois cilindros, com uma potência de 8 cavalos, desenvolviam uma velocidade de ponta de 65 km/h, mais que suficiente, nessa época, para circular sobre as ruas empedradas de uma cidade.
Tal como os coches de cavalos que, apesar de irem rareando, ainda se utilizavam em Paris em 1914, esses primeiros táxis tinham um compartimento fechado para os passageiros e separado do espaço destinado ao condutor que, inspirado na boleia daqueles veículos, era aberto apesar do seu tejadilho rudimentar.
Durante muito tempo ainda, os modelos de Renault com volante à direita conviveram com os que o usavam à esquerda. Estes, mais modernos mas menos numerosos, estavam habitualmente pintados de verde, enquanto que os outros ostentavam uma cor vermelho-escura. Junto ao condutor, ficava o inovador «taxámetro» - que depois passou a denominar-se taxímetro e que deu a estes veículos o nome de táxis -, e na porta figurava o número de licença do veículo e o nome da empresa a que pertenciam.
Tanto em Paris como nas localidades vizinhas, como era o caso de Lavallois por exemplo, os Renault AG revolucionaram o ambiente urbano, substituindo, quase da noite para o dia, os antigos fiacres puxados por cavalos. Mas a verdadeira façanha destes veículos estava para chegar, e seria a sua insólita participação na mobilização das tropas francesas para a frente do Marne, em Setembro de 1914.
Nesse ano, o parque de táxis parisiense contava com cerca de 1600 unidades, das quais mais de 80% pertenciam à companhia G7, fundada pelo Banco Mirabaud e que eram popularmente conhecidos como «os vermelhos».
Apesar de quase todos os táxis intervenientes no transporte de tropas para a frente do Marne serem Renault 8 CV ou AG (eram os que mais abundavam na cidade), participaram também algumas dezenas de veículos de outras marcas (responderam inclusive à convocatória caros de corrida e veículos privados).

Renault AG1 - Táxi do Marne - Paris - 1914

Ficha Técnica:
Ano de fabrico: 1906/1909
Motor: 2 cilindros em linha dianteira
Transmissão: caixa de velocidades manual de 3/4 velocidades
Potência: 8/8 CV
Dimensões: 3,7 m (comprimento) x 1,6 m (largura) x 2,15 m (altura)
Peso: 1020 kg
Velocidade máxima: 65 km/h

Renault AG1 - Táxi do Marne - Paris - 1914

Táxis de campanha

Quando, em princípios de Agosto, as tropas alemãs cruzaram a fronteira e penetraram na França, o seu principal objectivo era a cidade de Paris. Após um mês de campanha, os Alemães encontravam-se nas margens do rio Marne, a menos de 100 quilómetros da capital, e impunha-se a defesa da cidade.
O general que comandava a região militar de Paris, Joseph Gallieni, mobilizou os reservistas, cerca de 50 000 homens, com a intenção de enviá-los em apoio do general Maunoury, que resistia naquela que viria a ser a Batalha do Marne.
Quando Gallieni ficou a saber da falta de meios para enviar as tropas até à frente, contam que o velho general berrou: «E os táxis?»
Ao cair da tarde de 6 de Setembro de 1914, por ordem de Gallieni, reuniram-se na praça dos Invalides todos os táxis de Paris, com os seus motoristas. Quando um dos taxistas perguntou quanto lhes pagariam, chegou-se a um acordo compensatório por viagem.
Já na madrugada do dia 7, os táxis começaram a transportar, em longas colunas, os soldados para a frente do Marne. A viagem durava cerca de duas horas, e cada taxista transportava em média cinco soldados. À medida que o tempo passava, o número de passageiros aumentou e alguns soldados viram-se obrigados a acomodarem-se no tejadilho.
A 8 de Setembro, quando a Batalha do Marne atingiu o seu auge, os taxistas parisienses tinham levado até à frente mais de 10 000 soldados, desequilibrando a balança a favor dos Franceses e oferecendo ao seu país a vitória na primeira batalha importante da guerra. A salvação de Paris devia-se, em grande medida, aos seus taxistas.
O sucesso, que se tornou lendário, deu azo a muitas histórias, na sua maioria apócrifas. Conta-se que as balas do inimigo atingiram alguns taxistas e, inclusive, que um dos veículos e o seu condutor foram capturados pelos Alemães. Ao que parece, o táxi foi recuperado pelos Norte-Americanos em 1918 e é actualmente exibido no museu da cidade de Portland, no Oregão, dedicado à Primeira Guerra Mundial.
Os analistas não chegaram a um acordo quanto à quantidade de veículos que participaram na operação: os números oscilam entre um mínimo de 500 e um máximo de 1500.
Hoje sobrevivem apenas três destes míticos táxis; o de Portland, um exemplar que se encontra no Museu dos Invalides de Paris e um terceiro que se conserva no Museu do Automóvel de Briare (França).
A façanha foi original não só pelo insólito do transporte, mas também porque, durante a noite, as colunas de táxis avançaram com as suas luzes apagadas para não denunciar o movimento das tropas.
A operação durou três dias e cada táxi realizou de duas a três viagens entre Paris e a frente.
Actualmente, nas margens do rio Marne, onde se travou a batalha, existe uma placa comemorativa encimada por um relevo de um Renault, que faz justiça à epopeia dos taxistas parisienses.

Renault AG1 - Táxi do Marne - Paris - 1914

Fonte: Táxis do Mundo fascículo n.º 32 - Altaya
-Uma revolução de 8 cavalos
-Paris: a cidade nos alvores do século XX
-Táxis de campanha: a gesta dos táxis do Marne
-Táxis de época: um serviço centenário

Pesquisa personalizada